1 - Qual a sua opinião sobre a implantação de uma SAF no América de Natal?

Apesar de saber que o assunto já andava sendo conversado entre ex-dirigentes do clube há alguns anos, vejo como uma surpresa. O América é um clube tradicionalmente resistente a mudanças, basta ver quanto tempo levou para atualizar seu estatuto. Parece que aquela visão de que um forasteiro tomaria conta do clube se o sócio torcedor adquirisse o direito de votar não teve o mesmo vigor diante da SAF e de uma gestão aparentemente sem laços tradicionais com o América.

2 - Quais as principais vantagens e desvantagens neste modelo de gestão para o clube?

A intenção da lei é apontar um caminho para equacionar dívidas que afundam clubes brasileiros sufocados por práticas amadoras de gestão, para dizer o mínimo. Não sei se o América vive atualmente este sufocamento, embora certamente não esteja livre de dificuldades financeiras. Também não conheço a proposta que será votada pelas pessoas associadas. Genericamente falando, as principais vantagens são que agora o América terá de fato e de direito um “dono” (salvo engano, investidores detêm 90% de participação na SAF; o próprio clube, apenas 10%) e que suas diretorias serão profissionalizadas, remuneradas e, desta forma, cobradas. A desvantagem, também genericamente falando, é que a busca do lucro passa a ter um peso maior do que a esportividade em si, o que se choca com o América que existe há mais de 100 anos. Mas cabe às pessoas que vão votar a proposta da SAF terem a exata noção do que é o América, do que está sendo proposto e suas consequências até se as coisas não derem tão certo como se imagina.

3 - Você acredita que a SAF pode contribuir para uma gestão mais profissional e transparente no futebol?

De novo de forma genérica, sim. Conselho de administração, conselho fiscal, auditoria externa, publicação de demonstrações financeiras, tudo isso parece culminar nessa direção. A questão é como essas coisas se darão na prática num clube como o América, com tradição de ser há mais de um século hermeticamente fechado, além da realidade de que empresas muito mais abertas do que as do futebol conseguem burlar as obrigações de governança e transparência, como vimos atualmente com o escândalo contábil nas Americanas.

4 - Qual seria a sua principal recomendação para a diretoria do América de Natal no caso de aprovação da SAF?

Acho que a principal recomendação não deve ser para a diretoria porque ela me parece já muito bem assessorada e conhecedora do que vem pela frente, tanto que foi com ela que a proposta tornou-se concreta a ponto de ser votada. Além disso, os cargos de gestão na SAF serão de outras pessoas, como já anunciado na imprensa pelos envolvidos. A principal recomendação é para as pessoas associadas (proprietárias, beneméritas e/ou remidas) ao clube: é preciso conhecer a fundo o que será votado, traçando-se uma linha clara, sem qualquer sombra de dúvida, a respeito de patrimônio, direitos, obrigações e responsabilidades das partes envolvidas, inclusive quanto ao desfazimento da SAF a qualquer momento por problemas dentre seus integrantes. É inadmissível que alguém chegue para votar algo que mudará a essência do América baseado apenas na entrevista que ouviu numa rádio ou nas opiniões que pululam em redes sociais e na internet em geral. Leiam a proposta com calma, leiam a legislação, anotem as dúvidas. Procurem pessoas que lidam diariamente com Direito, Administração e/ou Contabilidade ligadas e não ligadas ao clube para esclarecer estas dúvidas. O resultado da votação será tanto melhor para o América quanto mais informadas as pessoas estiverem.

5 - Pela sua experiência, o Conselho Deliberativo aprovará a SAF?

A memória pode me trair, mas não me lembro nas últimas décadas de uma proposta oriunda da direção do América ter sido rejeitada pelo Conselho Deliberativo. Logo, acredito que esta aprovação já está mais do que garantida dentre as pessoas que fazem o CD. Mas cabe às pessoas associadas (proprietárias, beneméritas e/ou remidas) reunidas em Assembleia Geral a palavra final. Não tenho ideia de quantas pessoas com direito a voto existem hoje no América e nem quantas vão comparecer de fato à Assembleia do dia 20, véspera de feriadão no Brasil, mas creio que seja mais gente do que apenas as pessoas que compõem o CD. De todo jeito, acredito que a SAF será aprovada sem maiores intercorrências porque esta é a tradição do clube.