Nome pouco conhecido pelos brasileiros, com exceção das torcidas de Vitória e Atlético Paranaense, Vinícius Barriviera é um goleiro que foi por empréstimo ao Litex Lovech, da Bulgária, na temporada 2010/11. De volta ao Brasil, assinou um contrato de um ano com o Vila Nova, de Goiânia. Depois, voltou ao país europeu e está atualmente na terceira temporada consecutiva – e quarta no geral – com o time de Lovech.
Em entrevista exclusiva para o Doentes Por Futebol, no último mês de março, o jogador de 30 anos falou sobre o futebol búlgaro, como se adaptou ao país eslavo e sobre o recente caso de corrupção no futebol envolvendo seu time, as consequências disso e outros assuntos.
A vida na Bulgária
Doentes Por Futebol (Luis Felipe Zaguini): Como você saiu do futebol brasileiro e foi para o Litex? A trajetória até chegar na Bulgária. E, por que a Bulgária? O que te motivou a tomar tal decisão?
Vinícius Barriviera: Na minha primeira passagem, vim por empréstimo do Atlético-PR, fiquei um ano e meio e fui campeão nacional. No ano passado, após mais de 15 anos, meu contrato com o CAP terminou, então surgiu a possibilidade de retornar e eu decidi voltar, pois, tanto eu já os conhecia bem, como o oposto também, e eu sabia que isso seria importante após passar um tempo sem jogar, como eu fiquei após problemas salariais com o Vila Nova-GO.
DPF: Sabemos que toda mudança na vida, seja ela qual for, requer adaptação. Como foi a sua na Bulgária? Qual foi sua maior dificuldade em se acostumar e quais são os pontos positivos?
VB: Quando cheguei ao Litex, em 2010, por empréstimo do Atlético-PR, senti um pouco de dificuldade pra me adaptar com alguns costumes búlgaros, a falta de algumas comidas que sempre fui acostumado a comer no Brasil e, principalmente, a língua e o clima durante o inverno.
Nesta segunda passagem foi totalmente diferente, pois já sabia o que iria encontrar e já cheguei falando bem o búlgaro, o que facilitou muito. O lado positivo daqui é que é muito tranquilo de se viver, há pouquíssima violência e, por morar em uma cidade muito pequena, minha filha também tem muita liberdade para brincar. Outro lado bom é com relação ao custo de vida, que é baixo.
DPF: Você já mora há 5 anos acumulados na Bulgária. O que acha de se naturalizar búlgaro e participar da seleção do país? Faria isso caso aparecesse a oportunidade?
VB: Seria interessante, claro. Pensaria com muito carinho se tivesse este convite.
DPF: Você é o único brasileiro do plantel, mas alguns outros clubes búlgaros são recheados deles, com o Ludogorets sendo o clube com maior número de brasileiros. Isso te dá uma sensação de injustiça, não ter compatriotas para ajudar no desempenho da equipe ou algo do tipo?
VB: Brasileiros fazem falta sim. Há quatro ou cinco anos, chegamos a ser sete. Isso era muito bom também fora de campo, principalmente para a minha família, pois as esposas se davam muito bem. Dentro de campo, no momento, o Litex tem nove estrangeiros, o que nos dá qualidade, além de termos uma boa amizade fora de campo.
O Litex no cenário nacional
DPF: O Litex Lovech é um dos grandes da Bulgária, mas não tem um rival local de peso. Qual dos clubes do país você, ou o clube, considera como rivalidade? Levski, CSKA ou Ludogorets e por quê?
VB: Realmente. Não temos um clássico local, mas há uma grande rivalidade com esses três clubes. A maior delas é com o Levski, pois o dono do Litex tem uma simpatia pelo CSKA, inclusive está negociando a compra do clube, já que estão passando por sérios problemas financeiros. O Ludogorets se tornou um rival forte, porém não pela sua história, mas devido às campanhas recentes. É um time novo, foi comprado por um milionário e teve uma ascensão meteórica, sendo quatro vezes campeão nacional após subir da quarta divisão, tudo isso sucessivamente.
DPF: Você se considera um ídolo da torcida ou ao menos um líder no time de Lovech?
VB: Sou o jogador mais velho do grupo, isso por si só já é um motivo de liderança, tanto que fui escolhido pelos jogadores como vice-capitão. Acho importante passar experiência tanto dentro como fora de campo, pois nosso time é muito jovem. Também sou muito respeitado pela torcida, tanto por já ter sido campeão como por não ser um jogador que traz problemas ao clube no extracampo.
Aqui a relação entre torcida e jogador é muito diferente do Brasil, eles tratam os jogadores com muito mais respeito, mesmo quando os resultados não estão vindo conforme as expectativas.
DPF: Como é a estrutura do Litex e o que o clube preza? Quais são as missões, valores e, principalmente, como funciona a academia: há investimentos nos jovens jogadores ou preferem as realidades e não as promessas?
VB: O Litex tem um estádio pequeno, porém com características modernas, pois foi reformado em 2010 para ter condições de jogar a fase de grupos das competições europeias. Além disso, possui um complexo de treinamentos para o profissional e a base, com dois campos oficiais com grama natural, um sintético e outro natural com dimensões reduzidas. O foco do clube é em revelar jogadores. Eles apostam muito nas categorias de base e tiveram muito lucro com venda de jogadores nos últimos anos.
O fracasso continental e a corrupção dentro do futebol do país
DPF: Por que você acha que os clubes búlgaros – com exceção recentemente do Ludogorets – fracassam nas competições continentais?
VB: Pelos baixos investimentos que são reflexos da crise que o país vive. Outro motivo é a falta de experiência dos jogadores. Nesta temporada, por exemplo, fomos desclassificados por uma equipe da Letônia que era inferior à nossa, porém, muito mais experiente.
DPF: O que você pensa sobre os recentes relatos de corrupção? Quais, na sua opinião, são os clubes mais envolvidos? E por que você acha que isso acontece? Fale sobre um caso que você não tolera, se possível.
VB: Sinceramente, dentro de campo é difícil de perceber algo muito claro e até complicado de falar sobre algum favorecimento. São inúmeros fatores que levam à corrupção no esporte, desde força política até propinas e interesses financeiros. O fato mais recente aconteceu no nosso último jogo do campeonato, contra o Levski, quando nosso diretor de futebol entrou em campo no fim do primeiro tempo e retirou a equipe, pois a arbitragem estava tomando decisões claramente parciais.
Contra o mesmo Levski, alguns dias antes deste jogo, pela copa nacional, a arbitragem também cometeu alguns erros contra nós e, provavelmente, isso tenha também influenciado na decisão da diretoria de tirar o time de campo, pois levantou mais suspeita ainda.