Primeira Liga. É este o nome da união entre clubes do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, que pretende colocar em disputa um novo torneio já em 2017.
Para o CEO eleito da liga, Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético-MG, trata-se do embrião de uma liga nacional, que para ele é uma coisa obrigatória nos dias de hoje.
Ele diz que não há guerra, nem oposição à CBF, que organiza o Campeonato Brasileiro, mas reclama da postura das federações estaduais, que tentam impedir a liga.
Folha - Como você vê a liga?
Alexandre Kalil - Eu nunca vi tanta união entre os clubes. Além de ser muito progressista, o movimento é antes de tudo generoso. Sabemos que um clube é maior do que o outro, mas ninguém está lá para engolir ninguém.
É reflexo do quê?
Poderia falar que é do 7 a 1. Mas não vou. O fracasso do futebol brasileiro afetou todo mundo. Acertou os clubes no peito. O que a gente tem de pensar é o que aconteceu nos últimos anos para tamanho atraso do futebol brasileiro.
Até onde a liga pode chegar?
Quando estiver pronta e se juntar com as [da Copa] do Nordeste e [da Copa] Verde, e com São Paulo, vai ser a hora de uma liga nacional. O que não pode é ter sabotagem, gente querendo fazer o futebol andar para trás. Por que as federações têm de se meter no que um clube faz? Isso não é coisa de gente normal.
Uma liga nacional no Brasil é uma obrigação atualmente?
É obrigação. A CBF não tem estrutura organizacional e comercial para isso. Ela não tem tempo, nem cabeça. Ela tem que comercializar a seleção e as coisas dela. Ela não divide isso com ninguém. Temos que cuidar de nós.
A criação da liga reflete algum tipo de resposta à CBF?
Não. É um movimento consequente do aperto em que os clubes estão. Claro que houve erros dos clubes no passado. Mas por isso a gente vai ser condenado à morte? Alguém achou que a Copa do Mundo ia salvar o futebol. Não foi uma Copa, foi uma tragédia. Tem um monte de estádio construído [com pouco uso] e ninguém está preso.
A CBF está falida?
A CBF é milionária. A liga só vai alterar a vida de quem mama. A CBF não mama nos clubes. Quem gosta de colocar a boca na teta é quem vai sentir a falta da teta. Temos que dar a teta aos clubes.
As federações perderão?
Acho que sim. Mas a gente pode sentar e ver o que pode ser feito. Ninguém quer matar ninguém. O que eu não aceito é um presidente de federação bater no peito e falar que a liga não vai acontecer.
As federações devem acabar?
Elas podem cuidar de outras coisas. Racionaliza, bola um campeonato para ser rentável. O que não pode é alguém dizer que não vai acontecer nosso campeonato. Não tem lógica.
A Primeira Liga vai acontecer de qualquer jeito?
Sim. De qualquer jeito. Temos a Lei Pelé ao nosso lado. Só comunicamos a CBF.
A prisão de Marin desmoralizou o futebol brasileiro?
É um negócio triste, humilhante. Eu tenho vergonha de o mundo saber que o ex-presidente da CBF está preso. Eu tenho medo do que pode acontecer com ele, pela idade que tem (83 anos). A prisão da Suíça deve ser boa. Se fosse aqui, era capaz de ter morrido. É doloroso para a família.
O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, não viaja desde então. O que pensa sobre isso?
Não vou comentar esse assunto. Quero apenas fazer da nossa liga algo rentável. Tenho que vender. As mazelas do futebol, eu deixo a vocês.
Não é uma guerra contra a CBF e as federações?
Não. É uma questão de sobrevivência. A gente não quer tomar nada de ninguém. Não há guerra nenhuma. Os paulistas estão felizes com o campeonato deles? Ótimo. Temos que aplaudir. A gente quer ser feliz do lado de cá.
Como buscar patrocínios?
Vai ser difícil. Mas estamos sendo procurados. A Globo me ligou hoje. Há interessados. Vamos levar o futebol para o patamar que merece.
Como é a divisão do dinheiro?
Vai ser mais generosa. Você pega as maiores ligas do mundo, a diferença entre o que mais ganha e o que menos ganha é de 50%. As piores, cinco ou sete vezes. Tem de copiar o que deu certo.
Vocês tentaram aproximação com os paulistas?
Eu brinquei e disse que dou até a presidência a eles. Mas estão felizes lá. Esse tem de ser o caminho. Se nós estivéssemos felizes, ninguém ia pensar nesse negócio de liga.
Da Folha de São Paulo
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