13 de jul. de 2015

Adversário e Centenário - por Rubens Lemos

Eles eram barulhentos, encarnados de sangue na alma. Minoritários, incansáveis. O vermelho da fumaça sinalizava o prenúncio da guerra – santa, sem violência nem psicopatas impunes, pelejas que costumei perder nos primeiros anos de combate desenhado em coreografia.

Bailado campal. Literal. No gramado do saudoso Castelão (Machadão). Os craques e as armas da irreverência decidiam as tardes cruciais dos meninos.

Aquele final de década de 1970 e o começo dos anos 1980 me fizeram sofrer e querer o ABC além da quintessência.

Engana-se quem elege a glória de amplificadora do companheirismo. A vitória seduz, cega, engana, esconde, embeleza o caos. A vitória consagra, embriaga e é efêmera. A derrota é a solidão do bem machucado e amado em puro e dolorido fervor.

Devo ao América em descoberta pessoal pelos fracassos que me impôs em tristes anos, quatro, para ser exato, entre a meninice e a adolescência.

O América venceu tudo e me permitiu cultuar o ABC pelos olhos exclusivos do sentimento. Da marca mais próxima do humanismo: a solidariedade. O ABC perdia e eu estava com ele, nem que fosse(mos) apenas um corpo, só e frágil, lacrimoso.

O América ocupava uma trincheira na arquitetura curvilínea do Castelão(Machadão) ao lado direito das cabines de rádio, fazendo barulho e impressionando pelo desfilar de bandeiras e belas jovens da cidade.

Meu coração alvinegro de esperança, batia no heroísmo de um craque apenas, Danilo Menezes e um bando de meninos contra um América forte, de retaguarda, a imponente sede da Avenida Rodrigues Alves, área nobre de Natal. Aquilo não era uma sede, mas uma Babilônia que admirava sem invejar, pois meu mundo cabia em muito mais, a Frasqueira a céu e sol abertos.

O ABC, nos idos da calça jeans substituindo o bermudão de pano no fardamento escolar, começou a reagir e a devolver as humilhações. Aos 13 anos, vi o time de 1983 fazer 114 gols e três reis – Dedé de Dora, Marinho Apolônio e Silva – coroados pela minha massa. Monarcas vermelhos também.

O fim do Castelão(Machadão), a escassez dos craques, a morte do espetáculo atropelado por negócios e negociatas, o sangue espirrando de corpos de crianças mortas numa barbárie comandada por vândalos, me afastaram de minha razão de viver de quartas e domingos.

ABC x América foi muito mais do que o clássico. ABC x América, o tira, a teima, a reza, a praga, o amém, o vintém, a cerveja, a saliva, o drible, a defesa, a explosão da agonia. ABC x América, a separação massificada da cidade em dois gigantes populares.

O América é o certificado da grandeza do ABC, que só é história Centenária e eterna por enfrenta-lo e vencê-lo.


Quando vence o ABC, o América prova a vibração radiante que emana de suas cores e rostos, por um, dois, mais de cem centenários, além.
Com você, o Mecão é ainda mais forte. Seja Sócio!

1 comentários:

Anônimo disse...

A pessoa publicar um texto no dia anterior ao centenário do América em que o autor mais exalta o seu time do que o próprio América, é dose, sem comentários....

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