25 de jan. de 2015

Que quebrem

A presidente Dilma Rousseff vetou um dispositivo que permitiria aos clubes de futebol refinanciar suas dívidas com a União em condições para lá de vantajosas, que incluíam o parcelamento em até 240 vezes e descontos de até 70% em multas. O governo estima que as dívidas das agremiações com a União cheguem a R$ 3,7 bilhões.
Se a notícia acabasse aqui, eu estaria aplaudindo Dilma. Há, porém, informações de que ela vai apresentar uma nova medida provisória que assegura facilidades no refinanciamento, atrelando-as a contrapartidas, pelas quais os clubes se obrigariam a adotar boas práticas de governança.
Se há um setor que já deu repetidas e rematadas provas de sua incapacidade gerencial, é o dos times de futebol. É improvável que a jura de fidelidade a meia dúzia de regras de bom senso administrativo altere a natureza do negócio. Acho que já é hora de tentar algo mais radical, que seria executar as dívidas e provocar a falência de quem for inviável.
É verdade que, no plano imediato, haveria alguma confusão no meio de campo. O torcedor dos grandes clubes, porém, não corre muito risco de ver seu time do coração desaparecer. Estamos, afinal, falando de marcas com elevado valor de mercado, do que dá prova o volume financeiro movimentado com os direitos de transmissão dos principais campeonatos. No cenário mais verossímil, elas seriam vendidas para saldar as dívidas e, presume-se, passariam a ser administradas de forma mais profissional e lucrativa, como já ocorre em alguns lugares do mundo.
Estamos diante de uma oportunidade de aplicar o que o economista Joseph Schumpeter chamava de destruição criadora. Inovações, sejam tecnológicas ou administrativas, podem acabar com empresas, modelos de negócios e empregos, mas é do que brota dos escombros que, em última instância, a sociedade extrai sua prosperidade. Se alguém precisa disso, é o futebol brasileiro. 

Texto do jornalista Hélio Schwartsman, da Folha de São Paulo


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