Um jogador de renome já planejava a saída do Fluminense quando se
desenhava o rompimento com a Unimed. Foi ao mercado se oferecendo por
salário similar ao que recebia no tricolor. Ninguém topou. Abaixou o
valor, mas ainda assim não fechou. Nenhum clube aceitava pagar mais de
R$ 300 mil, nem quando a diferença era pequena. O atleta ainda está sem
time.
A história ocorrida nestes últimos meses de 2014, cujo
protagonista não é revelado a pedido da fonte, é simbólica do novo
momento do futebol brasileiro. Em meio à crise econômica, os salários de
jogadores têm caído de forma significativa em renovações e novas
contratações. Foi o que o blog ouviu de diversos participantes do
mercado, entre empresários e clubes.
Essa é a segunda matéria
sobre os problemas financeiros do setor, em continuidade a anterior que
mostrou o estouro da bolha do futebol com a asfixia de receitas dos clubes pela falta de patrocínios e parceiros.
Até
2013 era fácil ter dois ou três atletas com vencimentos de R$ 500 mil
em um time, mas agora só exceções receberão acima de R$ 300 mil. Pagar
em dia, ou pelo menos atrasar pouco, virou trunfo após séries de calotes
durante o ano de 2014. E uma debandada de jogadores médios pode deixar o
Brasil para mercados mais atrativos.
“Estou sentido que cada
renovação está sendo difícil. Essa proibição de investidor da Fifa deu
uma segurada no mercado. O salário vai cair e não vai ter quem investir.
Não vejo com bons olhos o que está acontecendo'', contou Roberto
Monteiro, representante do grupo DIS, que é procurador de jogadores e
tem direitos sobre alguns deles.
“Varia bastante de contrato para
contrato. Quem estiver livre até pode negociar mais. Mas o Brasil vai
começar a perder jogador para o exterior. Muitos vão voltar para a
Europa. O fluxo para o exterior vai aumentar. Eu mesmo estou saindo para
Europa para ver a negociação de dois atletas (do Brasil)'', contou o
empresário Marcelo Robalinho, da empresa Think Ball.
“Toda
negociação tem um orçamento, o pagamento dos direitos, os salários e as
comissões. Se o clube não tem ajuda nos direitos, isso vai impactar o
salário'', analisou o empresário e advogado Marcos Motta, que vê os
clubes bem cautelosos nos acertos. “Pagar em dia será um grande
diferencial diante dos atrasos que ocorreram no ano.''
Dos
cartolas, o blog ouviu que, nas negociações iniciais, os jogadores
continuavam a pedir os mesmos valores do final do ano passado. Mas
sofreram seguidas recusas e, aos poucos, têm abaixado as requisições.
Até os dirigentes admitem que os últimos anos formaram um período de
valores salariais fora da realidade do país.
Representantes do Bom
Senso FC, grupo que reúne jogadores, também já verificaram a mudança no
mercado com quedas de vencimentos. Não há nenhum levantamento oficial,
mas a percepção do grupo é que se acentuaram os casos de atrasos durante
2014. Na dureza que espera para o próximo ano, é hora de apertar os
cintos para todos.
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