Arrumar uma namorada, levar o filho na escola, fazer a declaração do
Imposto de Renda, levantar as estatísticas das partidas, procurar casa
para morar, escolher um time e dar conselhos são algumas das atividades
mais comuns que os empresários fazem hoje pelos jogadores que
representam.
Essa conveniência tem seu preço. O Regulamento dos Agentes da Fifa
não estipula um teto para a comissão dos agentes no momento de uma
transferência, mas sugere que seja de 3% do salário a ser recebido. A
lei do mercado é outra. O agente recebe também um porcentual no momento
da renovação com o clube. "Em geral, o valor é 10% do contrato do
atleta, mas é a lei da oferta e da procura. Se o atleta é disputado por
vários clubes, você acaba pagando mais", revela Guilherme Miranda,
diretor da DIS, grupo empresarial que investe no futebol.
De comissão em comissão, os agentes estão enchendo o papo, que já
está grande demais aos olhos da Fifa. Levantamento da entidade mostra
que 28% do dinheiro movimentado nas 11,5 mil transferências de 2012 no
mercado europeu acabaram nas mãos da categoria. Para conter essa sangria
desatada, todos os clubes - vendedores e compradores - são obrigados
desde 2011 a preencher o TMS (Transfer Match System) em cada
transferência internacional. Estão lá dados pessoais do jogador, valores
da transferência e, principalmente, a comissão dos agentes.
É um passo para a transparência no pagamento das comissões, mas o
problema é que apenas 30% dos agentes são licenciados e têm suas
comissões no sistema. Os outros 70% não aparecem nas transferências
simplesmente porque os clubes omitem (a Fifa proíbe uma transação com
agentes não licenciados). É uma espécie de mercado informal, uma Rua 25
de Março invisível para o sistema. É aí que cresce o poder dos
empresários, simbolizado pelos 10% de comissão. "Quando o clube
realmente quer um atleta, faz qualquer loucura", diz Guilherme Miranda.
Caminho das pedrasJorge Moraes, presidente da
Associação Brasileira dos Agentes de Futebol, explica que não é difícil
se tornar agente. Basta passar em uma prova objetiva sobre legislação
desportiva internacional e nacional na sede da CBF. Pelos números, os
interessados não têm se esforçado. Na última prova, de 400 candidatos,
menos de 30 foram aprovados. Os outros caminhos reconhecidos pela Fifa
para ser agente são concluir um curso de Direito ou ser parente de um
craque.
Eduardo Carlezzo, advogado especialista em direito desportivo, mostra
que o número de agentes licenciados está caindo no Brasil. "Atualmente
são 268 registrados, mas o número já foi de 500." A Itália tem sete
vezes mais agentes (1058) e a Espanha tem o dobro (575). Paralelamente,
aumenta o número de agentes informais. Ou seja: o calabouço que não
aparece nas estatísticas só aumenta.
Carlezzo aponta dois fatores para esse processo: o primeiro foi uma
postura ambígua da Fifa, que até anos atrás acenava com a
desregulamentação total da ação do agente. O segundo fator foi a
obrigatoriedade da renovação da licença do agente no mercado brasileiro a
cada cinco anos instituída em 2008. Medida que não pegou no mercado...
O empresário Gilmar Rinaldi está tão desiludido com esse quadro que
está abandonando a profissão. Afirma que não vai agenciar novos
jogadores além dos cinco que representa, entre eles André Dias e Fábio
Santos. "Todo mundo quer ser agente. Isso é péssimo para o mercado. Um
agente não precisa fazer tudo, mas só aquilo que está no contrato. Tem
de ser profissional."
Do O Estado de São Paulo
2 comentários:
A parte ruim disso tudo é quando o presidente do clube atua também como empresário, havendo um conflito de interesses. Onde, o seu jogador é obrigado a jogar e, quando há uma transferência futura o dinheiro dele é maior que a parte do clube.
Onde acontece isso? Abra o jogo.
Carlos Dantas
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